
Minha experiência com Dexter foi tardia, me chamando atenção o lançamento de Dexter: Ressurreição. Quando vi, a série já tinha 8 temporadas e voltou anos depois. Pensei: "deve ser muito boa". Eu não costumo assistir séries quando falam demais delas; eu pego abuso. Esse é o motivo de eu ter começado Game of Thrones na 4ª temporada e nunca ter assistido La Casa de Papel.
Ao longo das temporadas, apesar de ser uma série muito boa, ela apresentou altos e baixos, mesmo assim me mantive fixado nos pontos positivos e memoráveis. Entre eles, estão a primeira temporada, intensa e impactante, mostrando todo o cerne do personagem em sua vida dupla como investigador de polícia e serial killer, tendo como suas vítimas assassinos e predadores. Outro ponto marcante foi a inesquecível morte de Rita pelas mãos do Trinity (Arthur Mitchell), que me quebrou de verdade. Além disso, houve inúmeros casos e momentos de pura química do elenco.
Em contrapartida, entre os pontos negativos, a 8ª temporada afundou com a insistência em Hannah McKay, interpretada por Yvonne Strahovski, chata pra caramba. E pensar que tivemos o desperdício de não manter Lumen Pierce, de Julia Stiles, que tinha uma química real com Dexter. A morte de Debra foi repentina, apressada e mal executada, sem respeito pelo legado da personagem. Mesmo assim, o que sempre segurou a série foi o carisma do protagonista e do elenco ao redor, como Angel Batista, Vince Masuka e principalmente Debra, que davam textura e vida ao universo da série. Menção honrosa a James Doakes, que estava certo sobre Dexter o tempo todo e voltou a ser meme com o lançamento de Ressurreição. E a Rita… não superei.
Em Dexter: New Blood, vemos um revival da série, anos depois do fim da série original, com a missão de encerrar a história de forma digna. Aqui vemos a relação de Dexter com o filho, Harrison, que ele abandonou. A relação deles é complicada à medida que Harrison vai descobrindo quem o pai realmente é e questionando seus impulsos. Um dos grandes acertos foi o retorno de Debra como a consciência de Dexter, confrontando e freando seus impulsos de maneira bem desbocada, típica da personagem. Eu ria demais com ela. O revival, no geral, funciona muito bem e fecha um ciclo com peso e de maneira satisfatória, com a suposta morte de Dexter pelas mãos do filho e o início da investigação de Angel Batista.
É nesse contexto que chega Dexter: Ressurreição. Dexter sobrevive, vai para Nova York e se vê diante de novos antagonistas e obsessões, especialmente Leon Prater (Peter Dinklage), um bilionário fascinado por serial killers, além de participações especiais que ampliam o tabuleiro, como James Remar como Harry Morgan, C.S. Lee como Vince Masuka, David Zayas como Angel Batista, e John Lithgow retornando em flashbacks e referências. A temporada faz pontes com a mitologia clássica e reposiciona Dexter no mundo, agora lidando com o impacto que exerce sobre Harrison. Eu ainda senti falta de elementos clássicos, como Dexter trabalhando na análise de sangue e a abertura icônica com aquela musiquinha, e eu sei que o contexto era outro, mas há momentos e figuras que resgatam parte desse frescor.
Harrison se torna o contraponto emocional de Dexter, trazendo uma certa "humanidade" nele, mesmo que seja somente com ele. Sua presença puxa Dexter para uma zona de dilema entre a compulsão de matar e a responsabilidade afetiva. Esse atrito redefine decisões e dá espessura à temporada, deixando claro que, apesar do “passageiro sombrio” seguir vivo em Dexter, existe uma consciência que o questiona e freia. O ponto alto dessa temporada começa com a inserção do clube de Leon Prater, que reúne serial killers de elite e com participação de atores como Christian Slater, Jaime Murray e Michael Cudlitz, além de Peter Dinklage, que como sempre dá um show. Essa dinâmica cria tensão e novas camadas na narrativa, dando a Dexter desafios que expandem seu universo moral e psicológico.
Outro ponto que me marcou foi Angel Batista (La Pasiòn). Muitas vezes eu ficava naquela de “cara, vai embora, esquece isso”, mas não tinha como, dado todo o histórico de 20 anos caçando o Açougueiro de Bay Harbor e 10 anos de luto por um amigo que julgava morto. Conexões como essa são especiais em uma série e fazem a gente sentir o peso de cada escolha.
Eu não tive a oportunidade de acompanhar a série original ou New Blood semanalmente, episódio por episódio. Já Ressurreição me deu essa experiência: esperar, digerir cada capítulo, refletir e discutir antes do próximo. Isso deixou tudo mais especial.
No geral, Dexter: Ressurreição foi uma grata surpresa para mim. Mantém Dexter como eixo, dá a Harrison um papel fundamental nas decisões do pai, expande o mundo com novos antagonistas bem escolhidos, entrega episódios fortes e momentos que valem a jornada. Para mim, foi uma temporada muito boa e empolgante de acompanhar.
Confesso que em alguns momentos até me peguei com pensamentos intrusivos assistindo à série, e acho que esse é justamente o poder de Dexter: nos jogar dentro de dilemas morais incômodos. Espero que renovem para uma nova temporada, e se não fizerem, eu tenho uma sala preparada pra ele.
4.5 Marcio Oliveira
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