Não há nada de novo aqui, mas há algo que tem muito valor também. Para aqueles que não nasceram na época da internet instantânea, lembram o gostinho que tinha alguns filmes de terror "baseados em fatos reais", que traziam um peso de "será que aconteceu mesmo?", coisa que a atual geração dificilmente saberá do que se trata. Alguns desses filmes se venderam, inclusive, como falsos documentários, ou mock, como é o caso de A Bruxa de Blair, mas naquela época, nem precisava ir tão longe... Se tinha aquela caixa de texto dizendo que aqueles eventos eram reais, como ocorreu em O Exorcista, por exemplo, já era o suficiente para suspender a descrença de muitos e puxar uma imersão para o que estaria por vir.
Então, o Ritual está inserido em uma busca de requalificar, mas agora em tempos tecnológicos e informações ágeis da modernidade digital, esse sentimento de "será que aconteceu mesmo?". Mas, nesses tempos, inclusive com muitas fakenews, esse desejo de acreditar do ser humano, que sempre existiu, fica cada vez mais difícil de ser acessado. E esse é o grande desafio desse "terror da veracidade" em que O Ritual está inserido. Aqui a estratégia não está em "um personagem que resolveu gravar os acontecimentos de forma ingênua", como em Atividade Para normal (até porque, pela data dos acontecimentos, é inviável), mas a solução ainda está na fotografia, porém, de forma sútil.
O posicionamento da câmera levemente agitada, sem aquele enquadramento perfeito que busca os pontos de ouro, capturando reações por vezes desfocadas ao longo dos diálogos, ou com elementos intrusos na tela (como ombros, e afins), causa uma excelente sensação de veracidade da situação. É um fotógrafo não amador de documentários filmando uma simulação de acontecimentos que estão no controle da ficção. Essa engenhosidade nada inovadora, sendo bem feita, garante uma certa imersão do filme por todo o primeiro ato e até perto do fim do segundo.
O roteiro é bem enxuto, pontual, não demora para chegar no assunto central do filme, o que é bastante positivo, e separa os acontecimentos em sessões que resultam em um ótimo ritmo pro filme. Em uma pequena sinopse, sem muitos spoilers: um padre seminarista que passa a perder a fé após a morte do irmão e se vê completamente cético ao longo do exercício de sua profissão, seu nome é Joseph Steiger (Dan Stevens), e sua rotina é desestruturada quando sua igreja é obrigada a ser o local de um exorcismo.
Mas calma, Joseph não fará exorcismo algum, na verdade, ele nem acredita que é necessário (e há um esforço para não querer acreditar). Para ele tudo é uma doença psicológica, mas não cabe a ele julgar o velho exorcista Theophilus Riesinger (Al Pacino), tudo o que Joseph deve fazer é apenas anotar.
E, veja, é importante que o filme afirma que foi baseado nos escritos do próprio padre. Ali está a produção que inspirou o filme, como uma metalinguagem da gênese narrativa dos acontecimentos. Nós, céticos em tempos de modernidade tecnológica, vamos acompanhar Joseph nessa jornada (igualmente descrente).
As atuações são um ponto crucial do filme, inclusive dos coadjuvantes. Não há nada extraordinário na sonoplastia, ou em efeitos especiais mirabolantes, nem mesmo nos efeitos práticos ou na maquiagem do filme; há uma entrega de "feijão com arroz bem feito" nesse material visual, que funciona pro filme. A obra é sustentada, basicamente, pelo ritmo do roteiro e pelas atuações. Não é lá aquele filme super necessário que você precisa ver nos cinemas, mas caso vá, vale a pena ir em um com um bom sistema de som. Para os amantes do terror, não há nenhuma obra prima aqui, mas há uma peça que entrega bem o que se propõe.
Delano Amaral3.5
Então, o Ritual está inserido em uma busca de requalificar, mas agora em tempos tecnológicos e informações ágeis da modernidade digital, esse sentimento de "será que aconteceu mesmo?". Mas, nesses tempos, inclusive com muitas fakenews, esse desejo de acreditar do ser humano, que sempre existiu, fica cada vez mais difícil de ser acessado. E esse é o grande desafio desse "terror da veracidade" em que O Ritual está inserido. Aqui a estratégia não está em "um personagem que resolveu gravar os acontecimentos de forma ingênua", como em Atividade Para normal (até porque, pela data dos acontecimentos, é inviável), mas a solução ainda está na fotografia, porém, de forma sútil.
O posicionamento da câmera levemente agitada, sem aquele enquadramento perfeito que busca os pontos de ouro, capturando reações por vezes desfocadas ao longo dos diálogos, ou com elementos intrusos na tela (como ombros, e afins), causa uma excelente sensação de veracidade da situação. É um fotógrafo não amador de documentários filmando uma simulação de acontecimentos que estão no controle da ficção. Essa engenhosidade nada inovadora, sendo bem feita, garante uma certa imersão do filme por todo o primeiro ato e até perto do fim do segundo.
O roteiro é bem enxuto, pontual, não demora para chegar no assunto central do filme, o que é bastante positivo, e separa os acontecimentos em sessões que resultam em um ótimo ritmo pro filme. Em uma pequena sinopse, sem muitos spoilers: um padre seminarista que passa a perder a fé após a morte do irmão e se vê completamente cético ao longo do exercício de sua profissão, seu nome é Joseph Steiger (Dan Stevens), e sua rotina é desestruturada quando sua igreja é obrigada a ser o local de um exorcismo.
Mas calma, Joseph não fará exorcismo algum, na verdade, ele nem acredita que é necessário (e há um esforço para não querer acreditar). Para ele tudo é uma doença psicológica, mas não cabe a ele julgar o velho exorcista Theophilus Riesinger (Al Pacino), tudo o que Joseph deve fazer é apenas anotar.
E, veja, é importante que o filme afirma que foi baseado nos escritos do próprio padre. Ali está a produção que inspirou o filme, como uma metalinguagem da gênese narrativa dos acontecimentos. Nós, céticos em tempos de modernidade tecnológica, vamos acompanhar Joseph nessa jornada (igualmente descrente).
As atuações são um ponto crucial do filme, inclusive dos coadjuvantes. Não há nada extraordinário na sonoplastia, ou em efeitos especiais mirabolantes, nem mesmo nos efeitos práticos ou na maquiagem do filme; há uma entrega de "feijão com arroz bem feito" nesse material visual, que funciona pro filme. A obra é sustentada, basicamente, pelo ritmo do roteiro e pelas atuações. Não é lá aquele filme super necessário que você precisa ver nos cinemas, mas caso vá, vale a pena ir em um com um bom sistema de som. Para os amantes do terror, não há nenhuma obra prima aqui, mas há uma peça que entrega bem o que se propõe.
Delano Amaral
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