Assisti no domingo ao filme “Éden”, e, mancho... ainda tô processando tudo. Que negócio doido! Não é possível que isso aconteceu de verdade.
O filme se passa durante o período entre as duas guerras mundiais, nas Ilhas Galápagos, começando quando o casal Heinz e Margret Wittmer (Daniel Brühl e Sydney Sweeney) chega à ilha em busca de um médico que vivia lá isolado, alimentados por histórias fantasiosas e exageradas sobre o cara, que era visto no continente como um desbravador, um guru, um ser iluminado, um filósofo acima de todos os outros. Esse cara é o Dr. Friedrich Ritter (Jude Law), que foi pra esse local isolado junto com Dore Strauch (Vanessa Kirby), que mesmo morando com ele, faz questão de dizer que não é esposa dele. O casal foi pra ilha pra fugir da civilização e escrever um livro que, segundo eles, seria uma espécie de “bíblia” que salvaria a humanidade de si mesma. Nada pretensioso, né?
Heinz e Margret Wittmer eram gente simples, só queriam fugir do clima da Guerra e viver em paz com o filho, mas acabam sendo hostilizados, enganados e sabotados o tempo todo pelos “líderes espirituais” que tanto admiravam, os mesmos que nos jornais eram tratados como iluminados.
Até então, a convivência era só o tal doutor tentando fazer o casal desistir e ir embora, mas o negócio pega fogo mesmo quando chega a Baronesa Eloise (Ana de Armas). Ela desembarca cheia de firula, com dois amantes, fazendo a maior bagaceira sem pudor nenhum e querendo mandar em todo mundo. Uma mulher sedutora, manipuladora e explosiva. Ela chega dizendo que vai construir um hotel de luxo na ilha, e é aí que o caldo entorna de vez. O filme mergulha no colapso moral e emocional de todos, até chegar a um desfecho perturbador, reforçado por imagens reais filmadas na época pelo cineasta G. Allen Hancock, que aparecem nos minutos finais.
A direção de Ron Howard é precisa, equilibrando bem a tensão filosófica e o suspense humano. O ritmo é constante, a ambientação é sufocante e a sensação de isolamento é quase física. A fotografia é um dos grandes trunfos do filme: a beleza selvagem das Galápagos contrasta com a deterioração mental dos personagens, criando um visual de tirar o fôlego. O figurino é fiel ao período e mostra bem a decadência dos ideais dos personagens, começa limpo e bem estruturado, mas vai se desgastando junto com a sanidade de cada um. As locações, filmadas em paisagens reais do Pacífico, trazem um realismo tão forte que o espectador sente o calor, o cansaço e o isolamento junto com o elenco.
Nas atuações, Jude Law manda muito bem como o médico arrogante que acha que é dono da verdade. Vanessa Kirby entrega emoção pura, mostrando o sofrimento físico e mental de Dore. Daniel Brühl e Sydney Sweeney trazem aquele lado humano que a gente se apega fácil, e Ana de Armas rouba a cena total, a mulher é sangue nos zóio e fogo no parquinho, botando todo mundo num espiral de caos.
E o mais doido: é tudo baseado em fatos reais. O chamado “Mistério de Floreana” aconteceu mesmo. Esses europeus existiram, viveram isolados e acabaram envolvidos em desaparecimentos e mortes nunca totalmente explicadas. Até hoje, ninguém sabe ao certo o que aconteceu com alguns deles. Essa história ficou conhecida como “O Caso das Ilhas Galápagos”, e é repleta de mistérios, sumiços e contradições nos relatos.
O filme foi inspirado nas memórias escritas pela própria Margret Wittmer, uma das sobreviventes dessa experiência, que publicou o livro Floreana: A Woman’s Pilgrimage to the Galápagos. A obra conta em detalhes a rotina, as tensões e o colapso dessa comunidade isolada. Além disso, o cineasta G. Allen Hancock realmente viajou até a ilha e registrou tudo em vídeo, essas imagens reais aparecem no final do filme, deixando tudo ainda mais impactante.
O que me fez gostar do filme foi justamente essa mistura de realismo e insanidade. Ele mostra como o ser humano carrega seus próprios demônios, mesmo tentando fugir do mundo. É intenso, bem feito e com atuações de peso.
Confere lá no Prime Video e depois me diz se tu também ficou sem saber o que foi mais doido: o filme ou o fato de tudo ter realmente acontecido.



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