Agora, não sendo mais uma surpresa, Telefone Preto 2 mantém uma narrativa de continuação da história dos irmãos, porém, tirando um pouco o protagonismo de Finney e colocando no centro do tabuleiro Gwen, que passa a ter pesadelos e episódios de sonambulismo que engrenam a problemática do filme.
Se no primeiro filme a ideia de atender o telefone e demonstrar uma empatia com os mortos era uma centralidade para Finney; agora, o rapaz apenas quer colocar uma pedra em cima do seu passado. Reprimir acontecimentos e todos os sentimentos atrelados a ele tem um preço caro e, esse desespero de não se importar com as pessoas a sua volta, de não responder aos chamados, é algo que ele precisa lidar nessa nova obra.

Por outro lado Gwen não tem as mesmas escolhas, os episódios de sonambulismo e a coragem para descobrir sobre o passado, é algo que empurra a obra para um roteiro bastante funcional até metade do filme. Existe uma confusão sobre o que fazer entre o segundo e o terceiro ato, parece que a obra não sabe para onde caminhar, sabe o fim, mas não sabe o caminho, sobre que cenas elencar e como a dualidade entre a protagonista e o antagonista agem no filme até chegar o momento final.
Enquanto o roteiro parece um pouco embaralhado, a Estética do filme vence. A escolha das transições do mundo real e o mundo dos sonhos, a fotografia, a sonoplastia, a direção de arte e a trilha sonora, tudo isso parece se alinhar para produzir uma imersão que funciona de forma bastante atraente. A grande inquietação, em alguns momentos, parece que, apesar da Estética, não há muito o que mostrar (nos momentos em que o roteiro se atrapalha), mas em algum momento a história se reencontra, talvez dê uma forma simplista demais, mas se encontra.
Mais uma vez a obra permeia o subjetivo dos personagens, tentando fechar os círculos por trás de traumas da família. Sobre os coadjuvantes, há um deficiência no aproveitamento dos personagens novos, que se iniciam com premissas interessantes, mas que não levam a nada. É como se eu mostrasse um tabuleiro de ouija em um filme de terror que nunca ninguém vai usar e não tem importância alguma. Ou colocasse uma série de personagens coadjuvantes que gritam e correm de um lado e pro outro, mas que, no fim, não fazem nada, nem ninguém faz nada com eles, estão apenas perdidos na história. Há também uma expectativa sobre a investigação sobrenatural da obra que, para muitos, pode ser decepcionante de tão simplista que se finaliza. Soa infantil até, como um episódio de Scooby-doo, por ser uma investigação e trama preguiçosa.

O terceiro arco e a solução da problemática desloca o filme do terror para uma área completamente mais fantástica e isso não é necessariamente ruim, mas que há um estranhamento, aí sim há. É como se ao longo de todo o filme criasse uma ambientação onipotente de terror e, de repente, parece que é um episódio de Supernatural com os irmãos Winchester. Definitivamente essa transição me pareceu abrupta, com poucos elementos evolutivos e que, para alguns, pode soar como uma solução por meio de conselho de "coach": "você consegue, vai dar certo, acredite em você". Não acho que seja um Deus ex machina, pois o filme da pequenos elementos de que essa transição de ambientação irá ocorrer, mas a execução parece estranha, rude, abrupta.
Apesar dos deslizes e tropeços nos momentos finais do filme, ou com escolhas ruins do roteiro sobre como conduzir personagens secundários e o suspense/investigação, ainda assim, é uma obra interessante de se contemplar, principalmente pelo subtexto por trás dos irmãos, além da estética incrível da obra, que aparelha uma série de elementos técnicos para entregar uma imersão incrível.
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