Gerard Johnstone dirige seu segundo projeto de longa com a M3GAN, um conto satírico de tecnologia traiçoeira em que os choques e sustos e até mesmo as notas de advertência não são diminuídas pela veia agradável do humor exagerado. Escrito por Akela Cooper, a partir de uma história dela e James Wan, o filme começa com uma família viajando para uma estação de esqui. Infelizmente, um acidente tira a vida dos pais de Cady (Violet McGraw), que está gravemente ferida, mas sobrevive. Ela então é confiada aos cuidados de sua tia, Gemma (Allison Williams), uma brilhante expert em robótica da empresa Funki, que produz uma espécie de “Perpetual Pet” ou animal de estimação perpétuo, uma bola de pelos parecida com um troll de olhos arregalados, tipo aquele Furby da Hasbro, que pode falar e comer, além de peidar e cagar bolinhas fofas (Eca!).
Desde que Cady recebeu um desses bichinhos robóticos como presente de aniversário de sua tia Gemma, seus pais se preocupam com a quantidade de tempo que a menina gasta operando o gadget por meio de seu iPad. Esse é um tópico bastante preocupante entre os pais que se preocupam com seus filhos e sua dependência das novas tecnologias.
Enquanto lida com sua própria dor pela perda de sua irmã, Gemma faz o possível para consolar sua sobrinha de 9 anos, que está compreensivelmente traumatizada e não está disposta a se relacionar. Mas ela se anima quando vê o projeto de robótica da faculdade de Gemma, Bruce (um robô), em ação em uma breve aparição que serve como prenúncio para mais tarde, quando a gigantesca engenhoca de IA será útil. Ao ver a reação de Cady com Bruce, Gemma encontra energia renomada para terminar um projeto quase descartado.
Embora a comparação com os filmes Chucky e Annabelle pareça inevitável, os agentes malévolos nessas franquias são claramente bonecos. O Model 3 Generative Android ou Androide Generativo Modelo 3 conhecido como M3GAN, por outro lado, é uma boneca humanoide de 1,20m suficientemente realista para ser subversiva e também assustadora, ecoando clássicos da IA como Ex Machina.
A princípio, Gemma não percebe os perigos da nova companheira de sua sobrinha. Ela ignora o aviso da terapeuta sobre a “teoria do apego”, bem como as preocupações de sua colega Tess (Jen Van Epps), que a lembra de que M3GAN deve ser uma ferramenta para apoiar a paternidade tradicional, não substituí-la. Mas a programação de M3GAN é mais forte na busca constante de autoaperfeiçoamento do que no controle dos pais, então o solene dever da boneca de proteger Cady de qualquer ameaça logo começa a produzir baixas.
M3GAN (Amie Donald que é uma dançarina que faz o corpo enquanto Jenna Davis, uma Youtuber de 18 anos é a voz) pretende se tornar a melhor amiga de Cady e ajudá-la a superar a recente tragédia. Mas, M3GAN começa a aprender e se adaptar, e quando as pessoas machucam Cady, intencionalmente ou não, o bicho pega e a boneca bota pra lascar começando pelo cachorro pé duro da vizinha. Ah, se você pensar que a androide se parece com a Miley Cyrus jovem, também achei.
M3GAN é uma boa surpresa, embora tenha lá seus problemas. Para começar, há a terapeuta indicada pelo tribunal, Lydia (Amy Usherwood). O problema não está na personagem nem nos diálogos, mas sim em sua entrada na trama que pra mim foi desnecessária. É totalmente irracional alguém ter se adaptado e feito as mudanças necessárias em apenas um dia. Isso cria uma tensão estranha que não leva a lugar nenhum.
O trabalho de efeitos visuais para dar vida a M3GAN foi produzido nas instalações da Weta de Peter Jackson na Nova Zelândia e é de primeira linha. Mas não seria nada sem a personificação física da dançarina Amie Donald e o trabalho de voz (incluindo algumas canções até meio antigas) de Jenna Davis. M3GAN é fascinante de assistir, seja ela olhando pela janela com uma intenção enervante, rebentando alguns movimentos contorcionistas ou simplesmente inclinando a cabeça em uma inclinação repentina que induz tanto sustos quanto a risadas.
O seguinte é esse, M3GAN oferece tudo o que realmente importa num filme desse tipo. Para começar, tem um senso de humor perverso e até satírico. Enquanto a história começa com o trágico acidente, seguido de um comercial bobo do último brinquedo da empresa Funki, tipo uma concorrente da Hasbro. Já a androide M3GAN é bastante divertida, aproveitando ao máximo as piadas esperadas durante as mortes em potencial. Depois, há o ignorante David (Ronny Chieng) como o chefe de Gemma, que é histérico do início ao fim. Sabiamente, a autora nunca perde a veia cômica, mantendo-a viva e bem durante todo o tempo de execução.
Depois, há a maneira como Johnstone equilibra a comédia com o drama e o terror. O diretor sabe que as ações do androide são extremas e maximiza seus movimentos para serem os mais assustadores e perturbadores possíveis. E quando M3GAN ataca, é assustador. Sim, até a cena da dança da morte do TikTok fará o coração disparar.
Enquanto isso, Gemma está tentando ao máximo estar ao lado de sua sobrinha, mas não tem palavras para dizer o que precisa ser dito. O fato de os cineastas garantirem que esse ângulo esteja sempre na vanguarda prova que essa produção é mais do que apenas um filme descartável. As ações de todos têm peso real e consequências reais, tanto boas quanto ruins. Grande parte da diversão vem da precocidade crescente de M3GAN quando ela começa a questionar a autoridade de Gemma e mostra uma pitada de ressentimento sempre que ela é desligada. A roteirista Akela Cooper (Maligno e A Freira 2), trabalhando a partir de uma história que desenvolveu com Wan, dá à boneca de Inteligência Artificial os padrões de fala de uma adolescente espertinha contemporânea - fria e com um desafio petulante sutilmente embutido em cada linha, ficando mais feroz uma vez ela descobre como se tornar seu próprio usuário principal.
Claro, M3GAN não funcionaria sem seu elenco. Allison é ótima, transmitindo o amor de Gemma por Cady enquanto também se perde em seu trabalho abrangente e importante. Ela também é bastante intensa quando o momento pede (sem spoilers). Violet também é excelente, parecendo vulnerável, zangada, triste, feliz e desanimada, muitas vezes na mesma cena. Ela e Allison compartilham uma química crível e são bem legais juntas.
No entanto, as verdadeiras estrelas são Amie Donald (M3GAN) e Jenna Davis (a voz de M3GAN). A fisicalidade de Donald é notável, transformando uma simples virada de cabeça em algo perturbador. Jenna usa suas habilidades vocais para imbuir o personagem com curiosidade e alma. Juntas, esses dois talentos dão vida a um novo assassino aterrorizante que certamente se tornará um ícone moderno.
M3GAN pode não ser livre de defeitos, mas esses problemas são menores no geral. O elenco é uniformemente soberbo, mesmo aqueles atores não mencionados expressamente pelo nome nesta crítica. O roteiro da autora tece humor, drama e sustos, mantendo a emoção. O diretor habilmente equilibra os tons e maximiza o estilo visual para uma imagem de ótima aparência. Isso é o que o remake de Chucky deveria ter sido, mas falhou vergonhosamente. Já consigo imaginar uma M3GAN 2 vindo por aí, mas espero que com mais terror e menos comédia.4
James Drury
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