Mulher Rei - Nasce um Clássico Indispensável

Mulher Rei - Nasce um Clássico Indispensável


Quando assisti ao trailer desse filme já sabia que seria muito difícil ele dar errado. Existia ali, desde já, uma energia que eu não sentia há muito tempo. A perspectiva que o filme adota obviamente tem seu trajeto no campo ficcional, mas a importância de representatividade histórica é tão bem retratada, tão fascinante e corretiva, que aponta o norte para um realismo esplêndido e imersivo.

A atuação não só da Viola Davis, mas de todo o elenco, que imergem nessa narrativa do século XIX é fenomenal. Viola, como Nanisca, entrega uma general do grupo de guerra de elite do reino de Dahomey, uma personagem complexa, com profundidade e camadas difíceis de acessar nos primeiros instantes do filme. O carisma avassalador conquista rapidamente o público, nos primeiros minutos do filme, mas a medida que a obra marcha, e novas camadas se revelam, o lado brilhante da construção da Nanisca é revelado a cada novo arco e através da sua interação com a trama.

Os efeitos especiais, ou foram mínimos, ou foram primorosos, pois é difícil perceber a perspectiva da realidade e desses efeitos. A não ser por momentos de explosão, guerra e ação (...) a obra aparenta usar muitos efeitos práticos, muitas vezes provindas da direção de arte e de um ótimo treinamento de atores, uso inteligente e dublês e movimentos de câmera. Essa dança entre todos esses elementos de efeitos práticos, com as retoques e pontos cruciais dos efeitos especiais, proporcionam ainda mais a imersão na obra. Ora, vez e outra, é possível "se perceber" da seguinte forma: "Isso foi filmado lá? Onde fica esse lugar? Caramba que luta bem feita... Treinaram os atores? Eu não sei dizer se explodiram mesmo essa carroça, ou se foram efeitos."

A trilha sonora respira a proposta do filme, um resgate histórico que faz justiça a uma história que deveria ser contada há muito tempo e, que após seu lançamento, deve inspirar muitas outras. Os figurinos, as paisagens contempladas pela fotografia, os diálogos e a forma madura como a história caminha trás uma narrativa diferenciada, madura, palpável e envolvente. Apesar da duração de duas horas e 15 minutos, é fácil não perceber esse tempo passar.

Para aqueles que não gostaram da obra, pergunto-me o que incomoda de fato. Duvido bastante que seja algo relacionado a questões técnicas, ou narrativas do filme. Que, claro, possa haver críticas, mas os pontos positivos engolem, facilmente, os negativos. Agora, precisamos falar de uma verdade: filmes épicos com protagonista heroicos e de guerra, geralmente, carregam um homem branco, jovem, hetero e geralmente com um padrão de beleza pré-estabelecido. Raridade quando não é alguém com padrões europeus ou norte americanos. Além, essas histórias sempre têm uma conotação eurocêntrica, do ponto de vista narrativo, ou estadunidense. Quando não são esses parâmetros, a protagonista é uma moça jovem, geralmente branca, considerada bonita pelos padrões sociais e que tem muitos elementos de "fã service", ligados a sexualização da personagem, para agradar esse público mal-acostumado, de mente tão fechada e paupérrima.

Obras como essa deveriam ter chegado ao cinema de forma massiva há muito tempo, mas que bom que chegou. Nasce um clássico indispensável, não só para amantes da sétima arte, mas para todos! Todos que precisam abrir a cabeça para um "novo" ponto de vista extremamente necessário.

  1. ficha técnica
  • 22 de setembro de 2022 No cinema / 2h 15min / Histórico, Drama, Ação
  • Direção: Gina Prince-Bythewood
  • Roteiro Maria Bello, Dana Stevens
  • Elenco: Viola Davis, Thuso Mbedu, Lashana Lynch
  • Título original The Woman King
Palestrinha do Callango Nerd, Estudante do Curso de Cinema e Audiovisual (Unifor), Mestre Jedi e em Geografia (UECE), Fotógrafo, Videomaker, amante de RPGs, filmes, livros e histórias fantásticas.

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