THUNDERBOLTS não é um filme grandioso — mas é certeiro. Acerta no que se propõe: um grupo de desajustados tentando um lugar ao sol. E não tenta ser um novo Vingadores, o que já é um ponto positivo. O tom aqui é outro: mais pé no chão, mais sujo, mais humano.
A história se passa logo depois de Capitão América 4: Admirável Mundo Novo, com a Valentina Allegra de Fontaine enfrentando um processo de impeachment por causa das operações sujas que andou fazendo nas sombras. A solução dela? Queimar o arquivo. Literalmente. Ela manda os agentes que um dia trabalharam pra ela numa missão de “limpeza” — só que cada um com uma ordem diferente: matar os outros. Um jogo de rato contra rato. A ideia real era que todo mundo morresse de uma vez. Mas, claro, o plano dá errado.
Em vez de se matarem, os agentes percebem a armadilha e viram o jogo. Yelena Belova, John Walker (o Agente Americano) e a Fantasma estão num galpão quando descobrem toda a trama. E é aí que aparece alguém do nada — um tal de Bob. Isso mesmo, Bob, do nada no meio da confusão. O cara estava lá e nem ele mesmo sabe o motivo, mas se junta aos outros pra saírem desse local. Depois chegam o Guardião Vermelho e o Bucky Barnes, no melhor estilo Exterminador do Futuro em uma cena de perseguição muito massa. Vale ressaltar que de fato, Sebastian Stan se inspirou mesmo no Arnold pra essa cena. Um grupo forçado pela circunstância. A missão agora é clara: enfrentar a própria Valentina. Um bando de renegados unidos na marra.
E se tu viu a Treinadora (Taskmaster) no pôster… esquece. Ela morre cedo e, sinceramente, nem faz falta. A versão dela no MCU já era fraca desde o início — ninguém vai derramar lágrima.
Cada personagem carrega sua bagagem: arrependimentos, decisões erradas, traumas não resolvidos. Esse é o núcleo emocional do filme. Quem segura mais a bronca são Yelena, John e o Guardião Vermelho — têm os melhores momentos, mais camadas. O Bucky tá mais contido, tipo um lobo velho que já viu de tudo, mas serve como bússola moral do grupo. E agora com um novo peso nas costas: ele se tornou governador. Isso mesmo. Depois de anos sendo manipulado e usado, ele agora tenta jogar pelas regras — ou pelo menos fingir que joga.
Só que aí vem o dilema: o grupo dos Thunderbolts começa a ser tratado como os “Novos Vingadores”. E isso acende um alerta. Porque tanto o Steve Rogers quanto o Sam Wilson sempre foram contra a ideia dos Vingadores serem controlados pelo governo. O nome Vingadores sempre significou independência, agir quando o sistema falha. Agora, o Bucky faz parte de uma estrutura que tenta institucionalizar isso. Será que ele acredita mesmo nessa nova abordagem ou só tá tentando mudar o sistema por dentro?
E o tal do Bob? Depois descobrimos que ele é o Sentinela (Sentry, no original). O cara tava lá adormecido numa cápsula jogada no galpão — que mais parece um lixão onde os agentes iam ser torrados. Nem a própria Valentina sabia que ele tava ali. E sim, o nome é Bob de novo, igual ao de Top Gun: Maverick, onde o ator fez um personagem com o mesmo nome.
Bob acorda sem memória. Não sabe quem é, nem do que é capaz. Durante essa readaptação — com tentativas de manipulação por parte da própria Valentina — ele começa a descobrir o pacote completo de poderes: superforça, voo, manipulação de energia, regeneração, poderes mentais… tudo. Só que o problema não é o poder. É o que vem junto: o Void.
O Void é uma entidade que vive dentro dele — uma versão sombria e destrutiva do próprio Sentinela. Bob sofre de transtornos mentais sérios, e o filme não trata isso como piada nem alívio cômico. Mostra a batalha interna como uma guerra real, onde ele perde o controle por completo. E é aí que os Thunderbolts entram, não como heróis, mas como suporte emocional. A Yelena, especialmente, tem um papel marcante. É ela quem consegue quebrar o ciclo e trazer Bob de volta à razão, mostrando que até os mais quebrados conseguem manter uns aos outros inteiros.
Achei a escolha do ator muito boa — melhor do que a ideia original que era o ator de The Walking Dead (mó nada a ver, ainda bem que mudaram).
A direção de Jake Schreier surpreende. Ele opta por um estilo mais intimista — câmera próxima, pausas longas, olhares e silêncios que dizem mais do que mil explosões. Não falta ação, e quando ela vem, é pontual e bem coreografada. Mas o foco mesmo são os personagens. O humor aparece, sim, mas vem das diferenças entre o grupo, daquele climão de “tá tudo errado, mas vamo assim mesmo”.
E sim, tem duas cenas pós-créditos.
A primeira mostra apenas uma cena engraçada com o Guardião Vermelho em uma interação com uma moça no supermercado, enfatizando a nova equipe dos Vingadores, os tais Novos Vingadores.
Na segunda, que é a que realmente empolga, temos o Sam Wilson, atual Capitão América, entrando com um pedido formal de registro da marca “Vingadores” — pra impedir que o novo grupo use esse nome. A ideia é clara: não deixar que a identidade dos Vingadores vire instrumento político. Em seguida, rola uma conexão direta com o filme do Quarteto Fantástico, provavelmente preparando terreno pra uma continuação (ou um confronto maior) no longa deles.
No fim das contas, Thunderbolts entrega um filme sólido. Não é épico, mas também não tenta ser. É sobre quem sobrou, quem foi descartado — e como esses pedaços quebrados ainda têm muito a mostrar. Um acerto que, dentro do que o MCU vem tentando fazer, merece reconhecimento. Especialmente por mostrar que nem todo herói precisa brilhar… alguns só querem parar de apagar os outros.
Marcio Oliveira
0 Comentários