Eis um filme que surpreende bastante a gente ao assistir. Sim, é uma comédia romântica infanto juvenil e, sim, ela é bastante diferente de muito do que a gente consome desse gênero. “Você nem imagina” conta a história de Ellie Chu (Leah Lewis), uma garota que mora com o pai em uma cidade pequena. Ela é ateia, de humor bastante pesado, inteligente e calculista e aceita ajudar Paul Munsky (Daniel Diemer), um garoto completamente diferente dela, a conquistar Aster Flores (Alexxis Lemire).
Até aí, fórmula normal, certo?
Só tem um problema: Ellie, assim como Paul, também é apaixonada por Aster. E, ao se passar pelo garoto em recados de redes sociais e cartas, ela fala tudo o que sempre quis dizer para Aster – que descobre que a garota é extremamente parecida com ela, uma “alma gêmea”. Enquanto isso, na linha de frente, Paul, o nosso atleta, cozinheiro, religioso, não faz a menor ideia de como trocar 5 palavras com a garota de seus sonhos, que é extremamente parecida com Ellie, puxando para debater com ele assuntos como política migratória, artes visuais e poesia, o que a torna um desafio absurdo.
Dessa confusão sai um triangulo amoroso completamente maluco e com muita maturidade da poética de como funciona os sentimentos na realidade, como as coisas se misturam, se confundem, mas não são nada simples. Muito pelo contrário, a obra faz uma constante reflexão sobre o amor, o que é o amor, como pensar o amor, como funciona o tratamento desse sentimento; e essa análise é bastante pé no chão, assim como o desenrolar do filme. Nada sai da cartola do nada, nada cai como uma luva, nem no filme, nem na realidade, muito pelo contrário. A arte aqui imita a vida de uma forma engenhosa.
Não é um “filme de Oscar”, de super premiações etc., ou de ser super ovacionado (que se fosse, seria ótimo), mas que, para a proposta dele, é um filme bastante coerente, diferenciado e com uma proposta muito bem trabalhada. A direção e o roteiro feito por Alice Wu passa uma reflexão pessoal em cada detalhe da história, ali podemos ver como ela visualiza a complexidade dos vários tipos de amor e da confusão que é a relação entre as pessoas.
A fotografia e a edição brincam com o cenário a sua volta para construir alguns momentos de poéticas visuais na construção da história. De forma que não só relatam a forma de comunicar dos jovens, com as mensagens etc., mas trabalha uma forma de “salto temporal” bastante convidativa. A trilha sonora tem um certo espaço significativo no filme, principalmente para aqueles que imergem nas reflexões sobre o amor que ocorre na obra.
Obviamente, o filme tem sim alguns momentos de comédia romântica, com piadas não tão funcionais e momento “bobos”, nada imprevisíveis. Mas, no geral, a obra é um ótimo ensaio para comédias românticas mais complexas, que se aproximam do amor que existe de fato na realidade; que se aproxima de experiências que já tivemos, ou que algum amigo já teve. A obra é um exemplo da boa comédia romântica, que faz rir, que diverte, mas que fala do amor com maturidade, aquele que as pessoas em sua adolescência realmente vivenciam.
Delano Amaral 4
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