O Candidado Honesto 2 | Vale ou não a pena assistir?

O Candidado Honesto 2 | Vale ou não a pena assistir?



O enredo é simples, rápido e repleto de alusões. O que não é para menos, já que os últimos quatro anos que sucedem o primeiro filme renderam de notícias, fakenewse memes nas mídias brasileiras, fazendo da política um campo mais fértil do que nunca para os criativos de plantão: João Ernesto (Leandro Hassum), é um ex-presidiário e ex-deputado federal que decide voltar a ter uma vida normal após sair da prisão. Mas acaba sendo persuadido por Marcelinho (Victor Leal) a concorrer à presidência da república pelo partido de Ivan Pires (Cássio Pandolfh) e tem como principal concorrente, Pedro Rebento (Anderson Muller), um conservador extremista de direita que gosta de armas de fogo e discursos exaltados.
Leandro Hassum (Até que a Sorte nos Separe 3, 2015) deixa bastante claro para qualquer saudosista equivocado que perder peso, definitivamente, não o deixou menos engraçado. Se no primeiro filme metade das piadas eram reforçadas pelo perfil de “gordinho cara-de-pau-desbocado”, esta sequência traz um Hassum centrado nas piadas rápidas e caras-e-bocas ainda melhores. A  frase de efeito que descreve o ator, “ele mudou mas continua o mesmo”,  é muito bem colocada e há quem ache – como eu – que a mudança trouxe também mais profissionalismo e qualidade às suas performances.
O principal problema, então, é de roteiro, que, além de não conduzir bem o enredo, nos deixando sem entender porque algumas cenas acontecem tão rápido e tão sem nexo, força graça com várias piadas sem potencial... Porque com um protagonista amadurecido, sendo capaz de melhorar uma atuação que já era boa, não havia necessidade de algumas piadas como (SPOILER!) “prega rainha”,  “peito cabeludo”, “anã da diversidade” e “peidos da esposa”, que, de tão fracas, pobres, sem criatividade e nenhuma gota de originalidade, decepcionam até mesmo quem já está acostumado a ver – e, acredite, gostar – muito disso na comédia brasileira.
Além disso, a escolha de alguns atores parece motivada pela estranha ilusão, recorrente por parte dos cineastas, de que a simples presença de pessoas excêntricas – relativamente boas em suas zonas de conforto –, é suficiente para vender ingressos e arrancar gargalhadas... No cartaz e nos primeiros 3 segundos de entusiasmo quando o personagem entra em cena, é bem possível dizer que sim, mas a péssima interpretação de Falcão (Cine Holliúdy, 2013), que esbanja falta de jeito, repete – pior ainda – o problema de Shaolim do Sertão (2016) e confirma que, embora seja bom humorista, é ainda despreparado para o mundo cinematográfico.
Ficamos então sem saber se o problema é excesso de direção, que o força a ser o que não é, ou falta de talento... – eu fico com a primeira opção –.  O certo é que se Santucci (Os Farofeiros, 2017) esperava o mesmo personagem que aparece em Leruaite e programas de entrevista, sempre bem à vontade, espontâneo e verdadeiramente engraçado..., não deu... de novo.
No entanto, duas boas sacadas da produção, apesar de previsíveis as alusões a Michel Temer Dilma Rousseff, são: o personagem Ivan Pires, aproveitando o sucesso do tema "Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?" da escola de samba Paraíso do Tuiutí, que levou Dracula com traços do presidente interino do Brasil ao centro do sambódromo em fevereiro de 2018. Ivan é um “vice presidente” vampiresco que, mesmo em segundo plano, dá as cartas na política brasileira. Sempre envolvido em todas as tramoias no universo FICTÍCIOque apresenta um cenário político brasileiro movido pela corrupção. É um personagem misterioso, comicamente sério e bizarro que persegue João Ernesto e dá a Hassum uma excelente “escada” de performances; e a personagem Presidenta (Mila Ribeiro), que dispensa apresentações com suas falas calibradas nos discursos confusos de nossa ex-presidente. Cassio e Mila acrescentam ao filme um mix de riso e risada, tirando parte da responsabilidade, merecidamente, das costas de Hassum.
O filme, em geral, não se coloca a favor de nenhum partido, ficando livre para puxar referências e disparar piadas a torto e a direito. Mas algumas pessoas talvez enxerguem no personagem de Leandro Hassum e no enredo claras afirmações de que: I) um certo ex-presidente tem de santo as medidas que tem de diabo; II) se o processo de impeachment de João Ernesto foi esquematizado pelo vice presidente macabro, que compra metade dos deputados para derrubar o presidente eleito, temos então uma enorme exclamação em sua posição: “foi golpe!”; e III) não dá pra levar a sério a política brasileira.
Este último item talvez seja o de maior evidência, e o que carrega as munições do enredo e do roteiro, fáceis e pouco originais, do filme. O mais próximo de uma novidade, para os padrões do longa, é a transformação de João Ernesto em um mártir romantizado, que entra num “felizes para sempre” com direito a mãos dadas na praia ao lado de Amanda Pinheiro (Rosanne Mulholland e não mais Luiza Valdetaro) que ainda não consegue convencer nem mesmo ela – que dirá os telespectadores – dos motivos pelos quais considera João uma boa pessoa.
É um filme relativamente bom, pra quem gosta do estilo; anos luz melhor que o primeiro, mas o dobro da distância até ficar ótimo. Infelizmente, não é capaz de convidar o telespectador brasileiro mais exigente aos cinemas e nem mesmo de fazê-los procurar por mais referências nacionais. Em suma, ainda não é suficiente para salvar os Brasil do complexo de vira-latas que nos persegue no mundo cinematográfico desde mil novecentos e preto-e-branco, mas, democraticamente, é uma válida sustentação dessa esperança.



Professor de música, semioticista, crítico de cinema, comedor de cuscuz e ouvidor de baião.


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