Uma Noite de Crime: A Fronteira | O reflexo do sonho americano

Uma Noite de Crime: A Fronteira | O reflexo do sonho americano


Que a série de filmes da franquia “Uma Noite de Crime” é baseada em uma crítica ao modo de vida armamentista americano, não há dúvidas, uma vez que a obra passa justamente a apontar a seguinte experiência: os Estados Unidos da América seria um local mais calmo se, por uma noite, qualquer pessoa do país pudesse cometer qualquer tipo de crime e não ser preso – no caso, não seria crime. E essa regra se aplica, principalmente, a crimes de assassinato. A ideia é que, com esses crimes, parte das pessoas colocariam para fora seu desejo assassino por uma noite, não precisando saciar esse desejo ao longo do ano, enquanto isso, outras pessoas ficariam chocadas com a mortandade, e se sensibilizariam com a importância da vida.

Nessa última obra que encerra o arco dos cinco filmes, A Fronteira, a história circula em torno de um casal de mexicanos que estão vivendo nos EUA e vão passar pelo primeiro evento do feriado sangrento da franquia. Para isso, eles precisam sobreviver por 12 horas em um cenário que externa cada vez mais abertamente uma conjuntura neofacista, em uma ebulição que, dessa vez, talvez não encerre em apenas 12 horas.

O filme se mostra cada vez mais como uma nítida crítica ao modo de vida americano, estruturando todo o seu roteiro, em cada fala, em cada oportunidade que se torna possível, guiar-se para uma exposição da ferida dos problemas existentes nos EUA. E isso, talvez, seja um dos primeiros pontos que deixam o filme levemente confuso: um problema com a proposta da obra. Não que seja errado, ou não convidativo, tecer críticas como a franquia sempre veio fazendo ao longo dos filmes, mas nesse último episódio o roteiro não consegue correr de forma fluida enquanto realiza esse feito necessário.

Isso ocorre também pelo fato do filme ter um problema de identidade, iniciando como terror/suspense e finalizando como uma aventura, onde os personagens se mostram cada vez mais poderosos (os mocinhos) e realizando feitos cada vez mais absurdos. A conjuntura do terror simplesmente se perde, e não se perde no terceiro ato, mas ainda no final do segundo, com algumas dezenas de minutos de filme para sua conclusão, o que faz parecer ter virado uma outra obra enquanto ele ocorre, deixando o terror, a tensão e o suspense completamente de lado – se resumindo há pouquíssimos “jumpscare”.

Se esses fossem os únicos problemas, a obra ainda seria um acerto considerável, mas nesse mesmo tempo que perde a conjuntura da proposta do seu gênero, mudando para um filme de ação e aventura, os personagens parecem transformassem em “brucutus”, brutamontes superexperientes, que não temem a nada e vão tacar fogo em tudo, e que, toda essa personalidade gloriosa, simplesmente sumiu nos primeiros arcos do filme – eles se comportavam como pessoas normais, sem habilidades mirabolantes.

O filme também aponta em alguns momentos algumas resoluções de conflitos de forma bobinha, simples demais, o que quebra a suspensão de descrença ao assistir, algo como: “e só isso resolveu para sair dessa situação problema?! Uau.” Apesar de todos esses problemas, a obra ainda é bastante convidativa ao público que é fã da franquia, apresentando mais acertos que erros, principalmente se levarmos em consideração as críticas ao modo de vida do sonho americano, expondo as feridas hipócritas existentes na história do país e nos tempos atuais.


  1. Ficha técnica
  • Lançamento: 2 de setembro de 2021 No cinema
  • Duração: 1h 44min
  • Gênero: Ação, Suspense, Terror
  • Direção: Everardo Gout
  • Roteiro James DeMonaco
  • Elenco: Ana de la Reguera, Tenoch Huer

Palestrinha do Callango Nerd, Estudante do Curso de Cinema e Audiovisual (Unifor), Mestre Jedi e em Geografia (UECE), Fotógrafo, Videomaker, amante de RPGs, filmes, livros e histórias fantásticas.

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