MÁQUINAS MORTAIS | Vale ou não à pena dar uma bizoiada?

MÁQUINAS MORTAIS | Vale ou não à pena dar uma bizoiada?



Quando a gente fala em filmes de fantasia e ficção científica, o conceito de “construção de mundo” é super importante. “Construir o mundo” refere-se à habilidade de um autor ou cineasta de criar uma nova e incrível visão na qual sua história pode se desenrolar, usando todas as ferramentas disponíveis para alcançar o objetivo de dar mais credibilidade a ambientação ao filme tornando-o e inesquecível. Foi assim com Star Wars e Matrix. Máquinas Mortais, a adaptação cinematográfica de um dos romances de Philip Reeve (tem mais de um), representa um dos exemplos mais impressionantes de "construção de mundo" nos últimos anos, superando filmes como Valerian, e (sinto muito dizer) até mesmo os recentes episódios de Star Wars.

Abençoada com uma história bem ritmada (embora às vezes muito frenética) que tem começo, meio e fim, Máquinas Mortais poderia ter sido bem colocada para começar uma nova franquia se fatores externos não tivessem conspirado contra ela. Uma das queixas comuns com filmes como este - é que eles sacrificam o conceito de história de “filme único”, a fim de facilitar possíveis sequências, mas isso não se aplica aqui. Os roteiristas Peter Jackson, Philippa Boyens e Fran Walsh, que não são estranhos à série de filmes, garantem que Máquinas Mortais permaneça independente, enquanto ainda permite a possibilidade de futuras sequências. (Reeve escreveu um conjunto de quatro livros com esses personagens.) Infelizmente, o colapso do mercado cinematográfico, junto com a decisão da Universal de não divulgar agressivamente Máquinas Mortais, garantiu que isso seria uma tarefa única.

A tempo é talvez de 1000 anos no futuro, mas em uma cena onde Hester e Tom estão comendo um bolinho (falo já dos atores), ela diz que ele venceu em 2118, e Tom diz que está vencido há pelo 3000 anos (fiquei na dúvida). Como resultado de uma guerra cataclísmica chamada de "Guerra dos 60 Minutos" que devastou o planeta, surgiu um futuro pós-apocalíptico estilo steampunk, que é marcado pelo uso de tecnologia mais robusta como máquinas a vapor, fabricações em madeira, cobre e bronze, e o amplo uso de engrenagens; como se fosse uma explosão tecnológica pré-digital.  No filme cidades gigantescas e móveis conhecidas como "Cidades Traçãopercorrem a paisagem em busca de assentamentos menores para literalmente "devorá-las" para consumir seus recursos naturais.

Sob uma filosofia conhecida como "Darwinismo Municipal", essas grandes cidades caçam e absorvem assentamentos menores no "Grande Campo de Caça", que inclui a Grã-Bretanha e a Europa Continental. Em oposição, os assentamentos do "Liga Anti-Tração" desenvolveram uma civilização alternativa consistindo em "assentamentos estáticos" (cidades tradicionais, não-móveis) na Ásia liderados por Shan Guo (ex-China), protegidos pelo "Wall Shield". Relíquias da tecnologia moderna, como torradeiras, computadores e smartphones, são valorizadas como "Tecnologia Antiga".

A maior de todas as cidades, Londres, comandada pelo prefeito Magnus Crome (Patrick Malahide), persegue o assentamento de mineração de Salzhaken logo no início do filme (tadinhos). Pouco tempo depois, um dos refugiados de dessa “cidadezinha”, uma jovem chamada Hester Shaw (Hera Hilmar), tenta assassinar o chefe da Corporação dos Historiadores, Thaddeus Valentine (Hugo Weaving). O ataque é frustrado por um dos aprendizes de Valentine, Tom Natsworthy (Robert Sheehan), que persegue Hester através dos destroços em chamas de Salzhaken enquanto Londres literalmente a pulveriza e consome sua energia. A perseguição termina com Hester e Tom sendo ejetados da cidade quando Valentine se revela não ser o homem genial e despretensioso que parecia ser. No Grande Campo de Caça, Hester e Tom enfrentam uma série de desafios, dos quais o mais importante é aprender a confiar um no outro. Eles unem forças com a agente da Liga Anti-Tração, Anna Fang (Jihae), na tentativa de parar Valentine antes que ele seja capaz de ativar uma arma mortal. E Hester se torna o ponto focal de uma caçada feita por um perseguidor ressuscitado chamado Shrike (Stephen Lang), que afirma que ela quebrou uma promessa (que promessa?).

Para a liderar a trama, os cineastas optaram pela atriz islandesa Hera Himlar, que silenciosamente reuniu um currículo impressionante (embora discreto) nos últimos anos, mas meio desconhecida no Brasil. Ela transmite a força, o isolamento e a vulnerabilidade de Hester e gera uma química de queima lenta com o abestado Tom, Robert Sheehan. O ator mais conhecido do filme também é o que tem mais presença na tela: Hugo Weaving (Tradução: Hugo Tecelagem), que infelizmente é o vilão Valentine com um traço carismático que se recusa a ser ignorado. Weaving, que tem um relacionamento de longa data com Peter Jackson desde o Senhor dos Anéis quando fez o papel de Elrond, faz com que Valentine seja tão simpático que parece mais um anti-herói do que um vilão tradicional. No final das contas o que Valentine quer é reconstruir a MEDUSA, uma super-arma que pode destruir cidades em um instante, prometendo destruir a Muralha de Escudos com essa arma e levá-los a uma nova área de caça na Ásia, daí a Guerra dos Sessenta Minutos... é Vapt-Vupt com uma arma dessas! Mas aí vem a reviravolta que você só vai saber lendo a crítica recheada de Spoilers que meu filho Alef vai postar aqui no Callango Nerd.

O visual do filme, moldado sob a direção do diretor Christian Rivers, baseia-se em várias fontes de steampunk familiares de Mad Max e A Cidade das Crianças Perdidas, mantendo sua própria identidade. Os efeitos especiais são realmente especiais e merecem ser vistos em uma tela grande (quanto maior, melhor). Este é um daqueles filmes raros quando CGI de parede a parede não resulta em uma overdose. Mas, ao ver a perseguição de Londres a Salzhaken, a gente acha estranho o tamanho das cidades na tela, e Salzhaken fica parecendo um carrinho de controle remoto sendo perseguido por uma SUV.

Não há como não fazermos uma alusão histórica ao fato da Inglaterra ter sido uma grande "conquistadora de cidades" no passado. Outra alusão é ao muro que separa o Campo de Caça das cidades ainda remanescentes e intocáveis com a Grande Muralha da China que repelia os invasores. No final, vemos que é a China quem estenderá a mão amiga a Londres, dando outra alfinetada histórica referindo-se a Hong Kong sendo governada pela Coroa Britânica até Julho de 1997, tudo por causa de Ópio. É mole?

Sobre uma possível sequência, Peter Jackson afirmou que está interessado em fazer uma série de filmes, não houve anúncio formal de planos sobre isso. Quando perguntado sobre a possibilidade de um segundo filme, o roteirista Philippa Boyens afirmou que "inicialmente, foi feito pensando-se em apenas um filme. Espero que não porque eu acho que essa história tende a ser cada vez melhor."

Se vale à pena assistir? Vale sim. Mas vou avisando que no final dá um gostinho de quero mais, afinal, Londres é grande mas não é duas!




  1. FICHA TÉCNICA 
Título original: Mortal Engines
Distribuidor: UNIVERSAL PICTURES
Data de lançamento: 10 de janeiro de 2019 (2h 08min)
Direção: Christian Rivers
Elenco: Hera Hilmar, Robert Sheehan, Hugo Weaving
Gêneros: Ficção científica, Aventura, Ação
Nacionalidades: EUA, Nova Zelândia


Professor de Inglês e também crítico de cinema. Fã de carteirinha de filmes de ficção, ação e aventura, mas sempre com o olhar diferenciado para cada gênero de modo a transmitir com máxima fidelidade a minha impressão real sobre cada filme. Apesar do estrangeirismo do nome sou 100% cearense.


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